Novamente, lá estava ele. Ela não conseguia entender por que ele continuava a fazer isso! Toda noite era a mesma coisa: Ela voltava da escola, ia até a sala do piano e o encontrava trocando caricias com uma mulher qualquer que ele ‘achara’ na rua.

Ele não sabia quanto isso a enojava. Ou talvez ele soubesse... talvez isso também o enojasse, mas ela, sinceramente, não tinha mais vontade de saber. Ela não tinha mais nem vontade de olhar na cara daquele homem repugnante que era o seu pai.

Novamente ele parava suas caricias para observá-la. Ela o olhava com os mesmos olhos. Aqueles olhos tão parecidos com a mãe e, ao mesmo tempo, tão diferentes... acusadores. Ela bufou, voltando para seu quarto humano e esperando que seu pai terminasse o que tinha começado. Se bem que ela adoraria vê-lo procurar no corpo da outra o que ele nunca mais encontraria. Mas ela só tinha dez anos e, teoricamente, deveria ainda pensar que bebês vinham de beijos.

“Maldito...” pronunciou com ódio. “canalha... patife...” Sua mochila espatifou-se contra a parede e explodiu em seguida, seria a terceira só naquela semana. As energias mistas dentro daquele pequenino corpo começavam, novamente a se descontrolar, porem ela mesma começou a acalmá-los. Ela não queria explodir a casa, embora os gemidos vindos do quarto ao lado queriam convencer-lhe do contrário.

Sentou-se na cama e calmamente começou a brincar com seus poderes, desenhando selos no ar. E foi quando ela escutou, com satisfação, a mulher no quarto ao lado começar a gritar de dor porque alguma ‘coisa’ parecia queimá-la por dentro.

Escutou a voz de seu pai tentando acalmá-la e depois a desmaiar, quebrando o selo que a própria filha tinha colocado na mulher.

Logo em seguida escutou os passos pesados indo até a porta de seu quarto e a mão tentando abrir a porta sem resultado. Ela havia colocado outro selo. Não forte o suficiente para impedi-lo, mas ele lhe daria tempo mais que suficiente.

“Naomi, abra essa porta.” Mandou o pai, sua voz calma.

“Não, caído, quebre o selo se quiser entrar. Porem saiba que não quero ver sua cara imunda na minha frente.” Ela falou, tentando parecer calma, porem carregada com um rancor enorme. E sabia que seu pai odiava quando ela o chamava de caído.

“Abra a porta agora!” Ele mandou, um tanto bravo. Aquela não tinha sido a primeira vez que ela havia feito aquilo com uma de suas acompanhantes.

“Por que você não desiste, em?! Por que você tem que ser um canalha?!” Ela tacou o presente de dez anos na porta com raiva. Seus olhos azuis brilhavam por causa das lagrimas que ela teimava em deixar cair. “POR QUE NÃO RESPEITA A MEMORIA DA MINHA MÃE?! Cretino! Filho da –“

“NAOMI!” Ele gritou do lado de fora. “Você sabe muito bem que amei Julia e sempre vou amá-la, mas não acha que é pedir de mais querer me parar de ter encontros?!” Brigou.

“Não quero fazê-lo parar de ter encontros, Sakurai Kai, eu quero que você pare de ser esse idiota que eu tenho que aturar todos os dias da minha vida! Por sua culpa minha mãe está morta! Se você tivesse parado com aquela sua estúpida idéia de atacar o Éden, minha mãe estaria viva! Por sua culpa eu não tenho mãe e ainda tenho que aturar um pai GALINHA trazer uma PUTA todas as noites para essa casa!” Ela gritou alto e já não controlava mais suas energias, tanto que Kai conseguiu sentir um baque quando ela começou sua gritaria. “Se você tivesse amado minha mãe, você não estaria fazendo esse papelão que faz agora, Sakurai!”

“Sakurai Naomi...” Ele disse em tom de ameaça, quase conseguindo quebrar o selo na porta.

“Eu não quero seu sobrenome sujo! Eu não quero nada de você, nada! Meu nome é Akimase Naomi! AKIMASE!”

Quando Kai finalmente abriu a porta ele viu sua filha começar desaparecer. Seu corpo tremendo em raiva e seu rosto vermelho de tanto chorar e, antes que ele pudesse impedi-la, ela havia se teletransportado do apartamento.

-x-

Ela chorava no canto do dojo falido. Sua mãe havia vivido ali durante muito tempo antes de saber que era uma arcanja. Ela passou as mãos pelos olhos com raiva. Sabia que sair do apartamento não iria adiantar muito. Mais cedo ou mais tarde seu pai a encontraria, e quando a encontrasse ele não a perdoaria.

Foi quando uma mão com luva branca lhe ofereceu um pano para que ela limpasse suas lagrimas. Ela olhou para cima e viu um homem de pele morena vestido em um terno branco, assim como seus longos cabelos, e olhos dourados. Ele lhe sorriu, sentando-se ao lado da garota chorosa.

Ela agradeceu e secou o rosto e, quando finalmente juntou forças para falar, voltou a olhar o estranho. “O que quer, Akuma? Me pegar e me trocar por algo com meu pai? Há, duvido que aquele imbecil vá querer trocar algo por mim depois da briga que tivemos...” Suspirou, abaixando a cabeça.

“Hm... bem esperta para saber que sou um Akuma.” Comentou o homem, sorrindo levemente. “Porem eu não quero te trocar por nada, pequena. Eu só—“

“Então você é um pedófilo e quer uma companhia para a noite. Desculpe, mas não sou deste ramo... talvez a maldita Succubus te sirva melhor, apesar dela ser uma puta velha. “ respondeu sem emoção.

“Bem... Acredito que essa tal Succubus seja tentadora como qualquer outra, porem eu não estou aqui para nada disso.” Ele riu. “Me parece que a briga com seu pai foi, deveras, grande, não é?”

“Sim... mas ele estava pedindo faz tempo...” A garota suspirou derrotada. “Eu quero desaparecer daqui... Não agüento mais ver o canalha ir pra cama com toda mulher que ele bota os olhos...”

“Bem... eu posso arrumar isso.” Ele disse um tanto animado.

“Não, meu pai sempre me acha... mais cedo ou mais tarde. Ele consegue me rastrear... O odeio por isso!” bufou.

“Aonde eu moro ele não a rastrearia, pequena. Isso eu lhe garanto.” Ele sorriu levemente, se levantando.

A garota o olhou arregalando um pouco os olhos. Ela tinha como sair de perto do idiota? Ela tinha como se livrar dele?!

“NAOMI!” Ela escutou um grito vindo da entrada do dojo. Seu pai havia a encontrado.

“Acho que ele chegou... essa é a ultima chance. Você vem?” Ele esticou a mão para a pequena garota e ela olhou esta mão por alguns segundos.

A porta daquele quarto foi aberta e Kai viu Naomi de mãos dadas com o homem de cabelos brancos. Ele tentou impedi-los de se teletransportar, mas não foi, novamente, rápido o bastante.

Sua filha havia sumido, e ele não conseguia sentir sua energia em nenhuma parte do mundo.

-x-

“Aion-san! Aion-san!” Gritou o garoto menor de cabelos brancos. Então ele parou e viu que junto dele estava uma garota de cabelos mistos de negro e loiro. “Quem é essa, Aion-san?” O garoto perguntou, curioso.

“Ainda acordado, Yukito-kun? Acredito que Shader já deveria tê-lo colocado para dormir.” Ele sorriu, passando a mão nos cabelos do pequeno garoto.

“Não era pedófilo, hum?” Naomi cruzou os braços e sorriu de canto.

“Shader-chan disse que eu poderia te esperar!” Ele sorriu, depois olhando a novata. “Prazer, sou Ouzuko Yukito!”

“Pra-prazer.” Ela disse sem jeito, olhando o garoto que tinha quase a sua idade, talvez um ano mais novo... “Sou Sa... Akimase Naomi.” Ela sorriu.

“Ahm? Você vem do lado oriental de Áster também?” Ele sorriu, segurando a mão dela.

“Hm...? Não... Sou da Terra... ou Makai... os dois, na verdade...” Ela falou, sorrindo levemente.

“Que tal jantarmos? Acredito que Naomi esteja com fome.” Aion disse, sorrindo para as duas crianças.

“Tá!” Falaram as duas crianças, sorrindo. Essa era a primeira vez que Naomi sorria em anos.

Eles caminharam de volta para a grande mansão enquanto Aion sorria diabolicamente.

“Só faltam três... três que aquele maldito traidor tirou de mim...” Ele falou baixo, seguindo as crianças em seguida. “Chrno...”

Other Dimension - Fim

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