A mente do garoto ainda estava um pouco confusa. Ele pensou que após devolver a vida para Asch ele desapareceria, porem não foi isso que aconteceu. Ele ainda ERA ele, de alguma forma, mesmo sem um corpo, ele ainda possuía uma ‘alma’ que continha todas as suas lembranças.

Ele abriu os olhos – mesmo sem possuí-los – e olhou em volta. Era um lugar muito parecido com o coração do planeta, onde ele já havia ido duas vezes, e onde ele havia ‘morrido’. Seus olhar viajou de um lado para o outro até que ele viu uma figura similar a ele, porem ele tinha certeza que aquele não era seu original.

Ele caminhou – flutuou – até o ser, parando a sua frente. O ser, a criança, olhou para cima, fitando-lhe os olhos verde-aqua. Era estranho... Mais estranho do que olhar para o Asch. Pelo menos com Asch ele tinha diferenças, como, por exemplo, a cor de seus cabelos. Mas com a criança a sua frente era diferente. Eles eram idênticos. Assustadoramente idênticos!

O garoto sorriu de canto, suspirando levemente. “Você foi o perfeito...” Disse com sua voz infantil. Olhando para baixo em seguida. Seus logos cabelos ruivos caindo por seus ombros, enquanto ele abraçava suas próprias pernas.

“Hã?” Ele olhou a criança, confuso. Tocou-lhe o ombro, só para ver que a criança novamente o olhava assustado. “O que... você quis dizer com isso...?” Perguntou, meio sem jeito.

“Você foi a replica perfeita, Luke...” Ele falou, seu tom triste e carregado de ódio, quase igual ao tom de voz de Sync, que mesmo sendo a copia de Ion, tinha uma foz mais forte e triste. “Quando fizeram as replicas do Luke Fon Fabre, você, Luke, foi o que, milagrosamente, tinham todos os poderes e características do original... nenhum de nós, o resto, tinha o mesmo poder que o original...”

Mais um peso foi colocado nas costas do garoto... ele achava que tinha sido o único a ser feito, porem agora descobria que não tinha sido o único, mas o ultimo a ser produzido... Produzido... hehe... ele nunca nasceu, só foi produzido, como um objeto...

“Quando Van te conseguiu,” continuou a contar “eu e as outras replicas fomos jogadas dentro do vulcão de Daath... Eu assisti todos os nossos iguais morrendo... um por um... caindo na lava, ou sendo comidos por monstros...” Ele respirou fundo, olhando o que havia sobrevivido. “Você não sabe como é ver você mesmo morrer milhares de vezes... Toda vez que um morria, nós chorávamos... e ninguém vinha nos salvar! Tentamos achar um lugar seguro, mas antes que conseguíssemos, fomos todos aniquilados.” Ele falou com a voz pesada, cheia de ódio. “Tudo por que nós não éramos bom o suficiente!” Ele começou a gritar, levando as pequeninas mãos a própria cabeça. “Tudo por que nós não éramos iguais ao original! E outro era! Por causa disso, todos morreram!”

Luke tinha vontade de vomitar... As lembranças, os pensamentos de seu ‘irmão’ estavam sendo passadas para ele, e ele viu cada uma das mortes, nenhuma digna do ser que morria. Ele caiu sentado no ‘chão’, botando as mãos na cabeça e começando a chorar.

Por sua causa, varias pessoas morreram... por sua causa, seu original havia perdido tudo e por sua causa varias replicas morreram, inclusive as replicas que nasceram – foram produzidas – com ele! Ele não queria mais ser o Luke Fon Fabre! Ele não queria mais existir! Nem mesmo após a morte! Ele queria que cada pedaço da sua alma se separasse e nunca mais se juntasse! Ele não queria continuar com aquela dor no peito pelo resto da vida – morte –! Porem foi quando dois pequenos braços começaram a confortá-lo.

Ele olhou para o dono e viu um garoto de cabelos ruivo, mais escuros que os seus e os olhos um pouco mais sérios, apesar de pertencerem a uma criança.

“Não o escute...” Ele falou, passando seus pequeninos dedos pelos cabelos do garoto mais velho. “Não foi sua culpa disto ter acontecido... Se ele tivesse sido o escolhido, teria acontecido o mesmo com as outras replicas.” Falou calma e ternamente.

“Não seria!” Gritou a outra replica, olhando os dois com raiva. “Eu não deixaria! Eu impediria Van de fazer qualquer mau a eles!” Brigou, negando o que o outro disse.

“Não é verdade.” Ele disse simplesmente. “Os teste de reconhecimento são feitos antes da replica acordar. Se você tivesse sido o escolhido, não teria nem visto as outras replicas. Teria acontecido quem nem aconteceu com ele. Não pode culpá-lo por algo que ele não teve culpa.” Falou o garoto mais sério, porem ele sorria levemente, como se soubesse que nessa batalha, ele tinha ganhado.

“Pare! Como você pode ter tanta certeza?!” Ele gritou, se levantando. “Você não estava lá para ver! Você não é uma replica! Não sabe o que sentimos!”

“Posso não ser o mesmo que vocês, mas eu sei como se sentem. Eu também tive raiva dele quando ele voltou para a casa dos Fon Fabre, e não eu.” Ele falou simplesmente.

Luke arregalou os olhos, se levantando e ficando entre os dois. “Você é o... Asch?!” Perguntou, tímido.

A criança sorriu, o olhando. “Bem... eu acredito que esse seja o nome pelo qual me chamam agora, porem eu não sou ele completamente. Podemos simplificar a explicação como ‘eu sou a criança perdida’ do Asch.” Riu levemente. “Não que ele tenha realmente perdido essa parte dele – minha –, mas ele a trancou para poder se tornar mais forte. Porem, graças a você eu fui liberto novamente... não completamente, mas eu fui.”

“Eu... te libertei?” Ele parou para pensar depois levantou a cabeça, como se olhasse para o céu – inexistente –. “Então o Asch voltou para Barticul?”

“Não. Ele está te esperando. Ele pediu para Lorelei reconstruir seu corpo, para que vocês voltem juntos.” Ele sorriu.

“Como o original pode ter aceitado esse... esse... IDIOTA!” Falou a outra replica, seus olhos vermelhos e as lagrimas descendo por seu rosto. “Ele não merece!”

“Quem escolhe se merece ou não aqui não é você, é Lorelei. E Lorelei acha bem merecida a volta de Luke a vida.” A criança – Asch – volta a olhar Luke e sorri. “Eu sei que posso ser, por vezes, grosseiro, chato ou até te desrespeitar, mas mesmo assim não deixe que isso te afaste de mim. Você, mesmo que eu não queira admitir, virou alguém necessário. Não só por mim, mas pelos seus amigos. Então, por favor, pare com essas idéias estúpidas de suicídio.” Ele riu, o olhando.

“Só... só se você parar com as suas.” Luke sorriu levemente.

“Hm... talvez... isso depende do eu mais velho.” Ele sorriu. “Agora volte para eles. Eles precisam de você. Consegue escutar...? Tear está cantando para você.”

“Tue rei ze croa riou tue ze
Croa riou ze tue riou rei neu riou ze
Va rei ze tue neu tue riou tue croa
Riou rei croa riou ze rei va ze rei
Va neu va rei va neu va ze rei
Croa riou croa neu tue rei croa riou ze rei va
Rei va neu croa tue rei rei”

“... O Grand Fonic Hymn de Yulia...” Luke falou, fechando os olhos.

-x-

Ele olhou em volta, sua visão não estava muito focada, porem ele tinha certeza que tinha alguém ao seu lado.

“Acorde logo, replica idiota.” Ele escutou alguém falar com grosseria e alivio(?).

Passou as mãos pelos olhos e os coçou levemente, depois voltando a olhar quem havia falado com ele. “Asch...?” Ele perguntou depois de um tempo, reconhecendo a figura a sua figura.

“Não temos tempo para abraços e confraternização, idiota. Seus amigos estão chorando por sua morte, então é melhor você ir até eles e mostrar que vazo ruim não quebra.” Disse, seu tom bravo, porem, com algumas pontadas de carinho(?) e felicidade(??).

Luke sorriu levemente, lembrando-se das palavras do pequeno Asch e se levantando, começando a caminhar para seus amigos, porem antes ele parou e sorriu. “Você vem comigo.”

“Por... que?!”

“Por que eu prometi a uma pessoa que não largaria do seu pé nem que você quisesse me matar.” Ele sorriu largamente, aquele sorriso inocente. Asch suspirou, não entendendo direito o que o garoto estava falando, porem ele concordou. Porem quando eles começaram a ficar muito próximos do grupo ele parou e esperou Luke avançar sozinho.

Luke viu Tear descer da pedra meio hesitante, o olhando com expectativa – eles não viram Asch mais atrás – e perguntar: “Por que... você está aqui...?” Ela perguntou, sua voz cheia de esperança.

“Bem...” Ele começou, sorrindo de canto. “Aqui tem uma bela vista de Hod.” Ele esperou um tempo e depois continuou. “E... eu fiz uma promessa.”

Ele viu o rosto de todos seus amigos o olharem com espanto e alivio ao mesmo tempo – Até mesmo Jade!! – e lagrimas descerem pelo rosto de Tear.

Eles ficaram um pouco hesitantes no começo, porem logo todos correram para abraçá-lo. Ele se sentiu tão feliz... Ele podia finalmente ficar ao lado dos seus amigos! Eles... Eles estavam novamente juntos!

Saíram lagrimas por seus olhos, porem ele se agüentou e pediu para os amigos se afastarem levemente. “Mas eu não sou o único que voltou.” Ele sorriu e olhou para trás, vendo que Asch não estava a vista. Ele fez sua cara de bravo e gritou. “ASCH! Deixe de ser tímido e apareça!” Ele sorriu de canto, sabendo como seria a resposta.

“Quem é tímido aqui, replica idiota!” Asch gritou, se levantando de onde estava sentado e olhando para o grupo em volta da replica, que sorria como se aquele fosse o dia mais feliz de sua vida, e talvez fosse.

O grupo em volta de Luke foi se aproximando lentamente dele, menos Natalia, que saiu correndo em direção ao amigo de infância e o abraçou com força, começando a chorar. “Asch...” Ela sussurrou, parecendo triste e feliz ao mesmo tempo.

“Parece que vocês dois são duros de matar, não é?” Riu Guy, olhando os dois, que agora estavam de frente um para o outro.

“Provavelmente um herdou do outro a teimosia.” Falou Jade, sorrindo com aquela cara de quem sabe de tudo.

“Hehe! Agora eu tenho chance dupla de ficar rica!” Falou Anise, brincando e sorrindo, porem logo pulando e abraçando Luke como ela sempre fez.

“Fico feliz que os dois estejam bem.” Falou Tear, já com suas emoções controladas, porem ficando sempre ao lado de Luke.

“Seria bom voltarmos para Barticul e avisar ao papai e ao tio que os dois estão vivos.” Natalia disse, já se recompondo e voltando a agir como uma princesa, que era.

O grupo voltou para o Albiore II, o avião que o grupo viajou durante suas aventuras, trocando brincadeiras e risadas – mesmo que Asch quisesse as esconder, porem ele também estava feliz por voltar e rever aquele grupo de ‘idiotas’. – voando em direção a capital das luzes, Barticul.

“Vocês agiram admiravelmente.”

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